Às vezes, o destino catapulta os nossos sonhos e nos leva a novos caminhos. Foi assim com Rafaela Xavier, mulher negra da periferia de Belo Horizonte e primeira integrante de sua família a ingressar no ensino superior. Ela queria ser professora de História e, enquanto cursava a faculdade na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), identificou uma oportunidade de gerar renda extra após fazer um curso rápido de tranças afro.

A criadora focou as pesquisas da faculdade no impacto cultural e histórico do cabelo afro e, ao mesmo tempo, passou a levar seu conhecimento para as redes sociais, primeiro com textos e depois vídeos no YouTube. O que começou como um bico universitário se tornou um empreendimento de várias frentes. O salão cresceu e o canal também. Os conteúdos deixaram de ser focados nas técnicas das tranças e passaram a englobar noções básicas de empreendedorismo. E o salão migrou da sala da sua casa para um coworking na Savassi, um dos bairros mais nobres de Belo Horizonte.

Na pandemia, Rafa focou seus esforços no online e o isolamento fez seus conteúdos bombarem. O crescimento de sua marca no on-line empurrou a expansão presencial e vice-versa. Com a volta à normalidade, abriu um segundo espaço físico, o Maalum, um spa afro-referenciado que oferece serviços de alto padrão para noivas, madrinhas e formandas. Na mesma época, foi selecionada para o Fundo Vozes Negras do YouTube, programa global de aceleração de produtores de conteúdo com impacto na plataforma.

"Foi um divisor de águas. Recebi um aporte financeiro que me permitiu contratar uma equipe fixa para cuidar do canal e, assim, aprimorar o conteúdo. Além disso, tive acesso a uma série de formações, como gerenciamento do canal, produção de conteúdo e marketing de influência, e a conexões com outros criadores negros de diferentes áreas. O Vozes Negras me estabeleceu no mercado como criadora de conteúdo e influenciadora," comenta Rafaela Xavier.

Hoje, aos 26 anos, Rafaela gerencia 52 mil inscritos no canal do YouTube e 18 mulheres negras contratadas: cinco trabalham em suas redes sociais e 13 presencialmente na Casa Nagô e no Maalum. A mineira é uma referência para meninas que vieram do mesmo lugar desfavorecido – e do mesmo ofício de trancista –, não apenas as inspira, mas também contribui com a profissionalização e empoderamento de tantas outras empreendedoras negras. Para ela, o YouTube é uma grande plataforma de educação acessível a todos, fomentando um impacto direto na forma como o dinheiro circula, principalmente em áreas periféricas, ao viabilizar um empoderamento financeiro a partir de vídeos e lives.